22 de fevereiro de 2014

A vida é um teatro



A designação "Barroco" tem sua origem numa palavra que significa "pérola irregular".


As três graças de Peter Paul Rubens, 1639.

    

Na arte barroca são típicas as formas opulentas,
cheias de contraste,







A Primavera de Sandro Botticelli, 1478.

bem ao contrário das formas mais despojadas mais harmônicas da arte renascentista.




Para continuar a leitura, nada seria mais agradável do que ouvir juntamente 
alguns dos principais compositores barrocos. 
Enjoy it!


O século XVII foi particularmente marcado pela tensão entre opostos irreconciliáveis. De um lado, continuava a existir a visão de mundo do Renascimento, otimista e de exaltação da vida; de outro o extremo oposto desta visão também encontravam muitos adeptos, que preferiam abraçar uma vida de reclusão religiosa e negação do mundo. Tanto na arte quanto na própria vida, encontramos uma verdadeira opulência de formas expressivas.

- Uma palavra de ordem do Barroco era o dito latim Carpe diem 
que significa "aproveita o dia de hoje!"





              Esta gravura expressa o que se chama memento mori, expressão latina que significa "lembra-te de que vais morrer".         O renascentista Dürer compõe um casal de figuras contrastantes: uma jovem com a coroa e o vestido típicos de uma noiva no dia do seu casamento, ao lado de um personagem mítico das florestas impenetráveis dos Alpes que simboliza a lascívia, a extremada sensualidade. A frente deles, a caveira: ou seja, o amor sagrado e profano serão amos inevitavelmente vencidos pela morte.     Memento mori é uma advertência para que não esqueçamos da brevidade da vida.






No século XVII se disse muitas vezes que "A vida é um teatro". E foi precisamente durante o Barroco que surgiu o teatro moderno, com toda a sua parafernália de cenários e maquinaria. O teatro criava em cena uma ilusão, para depois desmascará-la na própria peça encenada. Assim, o teatro refletia a própria vida, mostrava que a altivez precede a decadência e representava a mesquinhez humana de forma impiedosa. 


Shakespeare escreveu suas grandes peças por volta de 1600, o que o coloca um pé no Renascimento e outro no Barroco. Mas já nele encontramos muitas citações que reforçam a ideia de que a vida é um teatro. Shakespeare se preocupava com a brevidade da vida, não a toa sua mais célebre citação é "Ser ou não ser, eis a questão", hoje estamos por aqui, mas amanhã poderemos não estar. 
Quando não comparavam a vida com um teatro, os poetas do Barroco a comparavam com um sonho.

"Somos feitos da mesma matéria que compõe os sonhos, e nossa breve vida está envolta em sono..."

A filosofia durante o Barroco também foi marcada por lutas acirradas entre modos de pensar contraditórios. Como já vimos, alguns filósofos consideravam a existência algo de natureza fundamentalmente anímica ou espiritual. Chamamos este ponto de vista de idealismo. O ponto de vista oposto se chama materialismo e designa uma filosofia que explica todos os fenômenos da existência a partir de grandezas concretas, materiais. No século XVII, o materialismo também teve muitos defensores. O de maior influência talvez tenha sido o filósofo inglês Thomas Hobbes. Ele dizia que todos os fenômenos - o que inclui homens e animais, portanto - se compunham exclusivamente de partículas materiais. Até mesmo a consciência, ou a alma humana teria sua origem no movimento de minúsculas partículas cerebrais.

Idealismo e materialismo são duas constantes que atravessam toda a história da filosofia. Só que raríssimas vezes esses dois pontos de vista apareceram de forma tão marcante num mesmo período quanto no Barroco. O materialismo foi amplamente nutrido pela ciência natural. Newton havia chamado a atenção para o fato de as mesmas leis do movimento valerem para todo o universo. Tido seria determinado, portante, pelas mesmas imutáveis leis, ou seja, pela mesma mecânica.

Uma pequena história

Certa vez, um astronauta e um neurologista russos discutiam sobre religião. O neurologista era cristão, e o astronauta não. "Já estive várias vezes no espaço", gabou-se o astronauta, "e nunca vi nem Deus, nem anjos." "E eu já operei muitos cérebros inteligentes", respondeu o neurologista, "e também nunca achei um único pensamento."

A anedota mostra que os pensamentos são algo completamente diferente de tudo o que se possa amputar ou dividir em partes menores. Por exemplo, não é nada fácil eliminar cirurgicamente uma ilusão. De certa forma, ela é profunda demais para ser removida dessa forma. Um importante filósofo chamado Leibniz disse que a grande diferença entre tudo o que é feito de matéria  e tudo o que é feito de espírito está no fato de que o material pode ser decomposto em unidades cada vez menores, ao passo que a alma não pode ser cortada em pedaços.

No próximo post vamos conhecer dois importantes filósofos do século XVII: Descartes e Spinoza!


Aquele momento...

Aquele momento em que você está ouvindo uma música que descreve perfeitamente e detalhadamente a fase em que você está vivendo. Uma música que em poucas palavras diz tudo o que estou sentindo, é ao mesmo tempo serena e de uma rara veracidade. Simplesmente define meus sentimentos por alguém.



13 de fevereiro de 2014

Sobre o niilismo

Niilismo é uma palavra que foge ao significado áspero do dicionário. É um conceito que foi aprofundado nas visões de diversos filósofos ao decorrer da história e que ainda hoje é motivo de contradição e confusão. Um dos primeiros livros, senão o primeiro, a retratar o niilismo foi Pais e Filhos, do escrito russo Ivan Turguêniev. Uma obra-prima que narra a trajetória existencial de um jovem que se propõe a ter uma vida niilista. Como forma de pensamento tem como principal característica a negação. Negação da arte, negação de valores superiores, negação do progresso da humanidade, negação da vida, tudo é negado no niilismo. Nietzsche deu ao niilismo, ao menos, 4 definições: negativo, reativo, passivo e ativo.

Esquema utilizado na palestra de Roberto Machado dada ao Café Filosófico.



A última definição que não é apresentado no esquema acima é a de niilismo ativo, este entrelaça com a ideia de Eterno Retorno do filósofo. O niilista ativo consegue atingir sua "máxima potência ao afirmar alegremente o eterno eterno". "Vive como se cada instante do tempo, cada instante da vida fosse retornar eternamente". Tendo coragem de suportar este fardo e amando a vida intensamente, Nietzsche se refere a esse amor como Amor Fati.

 Página Glossário

Nietzsche não se refere a uma aceitação passiva da vida nem ao destino como algo já definido. Ele se refere a uma acolhida dos acontecimentos de forma ativa, ou seja, experimentar mesmo o que eu chamaria, com Pessoa, de desassossego e não sucumbir a isso. Acolher acontecimentos no sentido de que, mesmo as piores coisas, possam disparar outras viabilidades pro corpo não padecer. Nesse sentido, a Grande Saúde para Nietzsche engloba, também, ascensões e depressões. Nietzsche foi um cara que viveu doente, mas nunca deixou de produzir. Aliás, era nas épocas de maior adoecimento físico que conseguia elaborar as mais incríveis obras filosóficas. Então, destino para Nietzsche não é algo a que se deva ficar submetido. Acolher o destino é ser ativo na construção dele. Destino como processo, não bem como ponto final. É transformar o que se vive na possibilidade, sempre, de fazer da vida uma potência, de fazer o corpo se movimentar... nunca passividade.
Comentário de Vanessa Monteiro sobre o conceito de Nietzsche.

Para que se possa compreender a ideia de Eterno Retorno do filósofo alemão, sugiro que assista ao vídeo abaixo e depois responda a pergunta que está no final da postagem.







Você vive hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade?

1 de fevereiro de 2014

#Parte 5: Martinho Lutero e a Reforma Protestante

Esta é uma postagem extra acerca dessa nossa aventura pelo Renascimento, e antes de lermos um pouco mais a fundo as ideias de Martinho Lutero, vamos a um vídeo.




Martinho Lutero e a Reforma Protestante

Quando a filosofia e a ciência se separaram da teologia, começou a surgir paulatinamente uma nova forma de devoção, uma nova religiosidade cristã. Então veio o Renascimento com sua visão de homem. E esta foi muito importante para a prática religiosa, já que mais importante do que a relação com a Igreja enquanto instituição era a relação pessoal de cada um para com Deus.
Na Igreja católica da Idade Média, a liturgia latina e suas orações e rituais haviam sido a verdadeira espinha dorsal do serviço religioso. Somente padres e monges liam a Bíblia, pois ela só existia em latim. Contudo, durante o Renascimento, a Bíblia foi traduzida do aramaico e do grego para as línguas nacionais. E isto foi importante para  a chamada Reforma.

Um dos personagens principais a cerca da Reforma foi Martinho Lutero, um teólogo que não concordava com algumas atitudes da Igreja católica da época, como o comércio de indulgência, publicando suas ideias sob a forma de 95 teses. Essas proposições se tornaram muito populares, pois tiravam da Igreja e davam a cada pessoa a responsabilidade por sua própria salvação. Essas teses, porém, iam contra os interesses da Igreja católica que excomungou Lutero em 1521. Martinho Lutero criou então sua própria religião: O luteranismo. 




Para Lutero, o homem não precisava tomar o atalho da Igreja ou de seus sacerdotes para conseguir o perdão de Deus. Muito menos o perdão de Deus dependia de uma soma paga à igreja em troca de indulgência. Ele queria "voltar ás fontes" do cristianismo, tal como lemos no Novo Testamento. O teólogo alemão foi o responsável por traduzir a Bíblia para o alemão. Assim cada um deveria ter acesso à sua leitura, a fim ser o pastor de si mesmo, por assim dizer.

- Pastor de si mesmo? Isto não era ir longe demais?

Lutero achava que os padres de forma alguma desfrutavam de uma relação mais privilegiada com Deus. Por motivos práticos, as comunidades luteranas empregavam padres que conduziam o serviço religioso e realizavam as tarefas cotidianas da Igreja. Mas Lutero dizia que o homem não obtinha o perdão de Deus e a libertação de seus pecados por meio dos rituais da Igreja. Para ele, a redenção era concedida ao homem de forma "inteiramente grátis", através unicamente da fé. E ele chegara a estas conclusões com as leituras da Bíblia

Créditos

Tudo é história, Oldimar Cardoso, 7º ano do ensino fundamental
Página: 29