"Às vezes eu faço isso de vestir um
terno preto que eu tenho para ocasiões formais, como enterros, e pegar uma
pasta vazia que comprei em um brechó. Só que não vou para a escola.
Eu treino ser adulto, fingindo que
estou indo para o trabalho. Caminho em direção à estação de trem, e, cerca de uns dois
quarteirões dali, eu me junto às outras pessoas de ternos carregando pastas. Estudei
suas expressões mortas o suficiente para me misturar a eles. Marcho
como um soldado, imitando os passos, balançando minha maleta vazia do mesmo
jeito - quase em passo de ganso.
Eu insiro moedas nas máquinas no lado
de fora da estação e pego um jornal de papel à moda antiga, que enfio debaixo
do braço, só para me confundir com a multidão.
Pego minha passagem na máquina.
Desço pela escada rolante.
Então fico parado como zumbi esperando
o trem chegar.
Eu sei que isso vai parecer
errado, mas sempre que visto meu terno de enterro, vou para a estação de trem e
finjo que tenho um emprego na cidade, isso sempre me faz pensar nos trens
nazistas que levavam os judeus da Segunda Guerra Mundial para os campo de concentração.
Herr Silverman nos ensinou sobre isso. Eu sei que é uma comparação horrível,
talvez até ofensiva, mas aguardando ali na plataforma, entre os homens de
terno, sinto que estou esperando para ir para alguma lugar horrível, onde tudo
o que é bom acaba e, em seguida, a miséria perdura para todo o sempre - o que
me faz lembrar das terríveis histórias que aprendemos nas aulas sobre
Holocausto, seja isso ofensiva ou não. Quer dizer,
nós ganhamos a Segunda Guerra Mundial, certo? E, no entanto, todos esses adultos - filhos, filhas e
netos de nossos heróis da Segunda Guerra - continuam a entrar em trens da morte
metafóricos, mesmo tendo derrotado os nazifascistas há muito tempo. Portanto,
cada americano é livre para fazer o que quiser aqui neste grande país
supostamente livre. Por que não usam sua liberdade para buscar a felicidade?"
PERDÃO, LEONARD PEACOCK
MATTHEW QUICK
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