E dizem em Caxias que sempre fui uma alma boa, titio falava isso, e Natalícia dizia: Ah, ela é uma boa samaritana! eu ficava fula com as carolices desse pessoal que fica despachando do próximo, desenterrando morto e engasgando-se com mosquitos, sei que a Boa Samaritana queria dizer que eu dava trela mais a um filho de estrangeiro do que a um natural, que eu dava de beber a um inimigo e não a um brasileiro, mas podia eu ser boa samaritana se ela teve seis maridos? ou foram oito? ou doze? feliz dela que teve tantos amores, sei é que amou, eu tive nenhum marido e apenas um único amor em toda a minha vida, um amor sem modos de o conseguir, mas que não tem nada do que pensam os beijadores de ladrilho da igreja, no escondido da noite sinto uma desordem dentro de mim e ninguém sabe disso, minha devoção é muito mais romântica porque é secreta, Maria Luíza disse que não entendo como eu aceito ser uma preterida, como eu me deixo ficar feito encomenda sem dinheiro que não sai do tinteiro, um dia escrevi uma carta para Maria Luíza explicando que não sou uma preterida, é bem diferente disso, sou alguém que ama em segredo, não sei por que sou assim, talvez seja aquele mesmo problema dos poetas que se entregam a sacrifícios que não interessam a ninguém, vivem para o próprio segrego, mas prefiro isso ao lugar-comum, prefiro essa pessoas revolvidas pela tristeza, do que ter pensamentos a menos cada ano, prefiro amargar a engolir, apenas por amar Antonio sinto-me como que enfeitada de outro e pérolas, isso escrevi na carta, porém nunca mandei essa carta para Maria Luíza, para ela não pensar que sou uma boa samaritana metida e santa, o que prova a santidade é vencer a tentação, e não aquele que nasceu com o coração de pedra dura, feito eu, mas o coração de muitas bitolas irrealistas.
29 de abril de 2012
Alma compassiva
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