As religiões tradicionais da África estão muito ligadas aos diferentes
grupos étnicos do continente, dos quais mais de 700 estão ao sul do Saara. Há
grande diversidade de práticas e crenças, mas a existência de algumas
importantes características comuns permite que se façam algumas observações
gerais. Como não têm livros sagrados, as religiões africanas tradicionais
baseiam-se em mitos e rituais transmitidos oralmente, por tradição e costume.
Podem ser descritas como sistemas de crenças e rituais que estão mais
fortemente associados à experiência diária do que a princípios metafísicos e
morais que prometem a salvações individual em um outro mundo espiritual. O mal
e o infortúnio, portanto, são vistos como fruto da perversidade humana e de
desordem dentro da harmonia correta das coisas, podendo ser retificadas através
de conciliação e de curas (ao invés das ações de poderes sobrenaturais).
Em geral, afirma-se a existência de um Deus supremo ou princípio último,
mas dá-se maior atenção a uma série de deidades e espíritos secundários. A
partir do século 17, à medida que a colonização europeia prosseguia, a ideia de
um Deus supremo foi se torando mais importante, provavelmente como consequência
da desintegração das instituições políticas tradicionais locais. Após o contato
com o cristianismo e o Islã, muitos africanos reconheceram seu Deus supremo
como o mesmo dessas religiões, o que permitiu uma síntese de certos aspectos
das diferentes tradições.
Na maioria dos sistemas
africanos de crenças, os espíritos ancestrais são particularmente importantes.
Crê-se que os espíritos dos líderes do clã ou família continuam a cuida do
bem-estar de seus descendentes e fazem-se esforços consideráveis para obter os
favores dos espíritos através de orações e sacrifícios. Há ainda outros seres
espirituais, entre os quais os espíritos malignos, cujo poder pode ser
utilizado por feiticeiros e bruxos. O uso de amuletos e encantamentos para
afastar feitiçarias também é muito comum. Em muitas partes da África
subsaariana, o rei ou chefe era tradicionalmente reverenciado como semidivino e
provia a liderança moral e religiosa. Diversas categorias de indivíduos lidam
também com a vida espiritual: sacerdotes, herbanários, médiuns, possuídos pelo
espírito de um deus ou ancestral, e adivinhos, que preveem o futuro através de
atos de magia, como jogar ossos.
Os rituais comunais são
mantidos para objetivos específicos, como trazer chuva ou abençoar a colheita.
Ritos de passagem marcam os momentos decisivos da vida do indivíduo e mantêm a
coesão da comunidade. Os locais sagrados tanto podem ser de tipo natural (um
bosque, uma árvore), como edificações sagradas, semelhantes a grandes templos,
dedicados a um deus ou espírito, e em cujo interior podem estar guardadas
imagens ou objetos sagrados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário