4 de agosto de 2012

Neoplatonismo

Para apresentar as correntes filosóficas do Helenismo, eu as dividi em duas partes. Na primeira parte apresentei um breve contexto histórico e três correntes filosóficas:
Cinismo, estoicismo e epicurismo.

Eu as agrupei juntamente por terem fundamentos socráticos e pré-socráticos, isto é, as três correntes surgiram através das ideias de Sócrates, cada uma com uma interpretação da vida deste filósofo que já estudamos por aqui.
Agora, as próximas correntes filosóficas a serem apresentadas foram inspiradas em Platão.
Os cínicos, os estoicos e os epicureus tiveram como ponto de partida os ensinamentos de Sócrates. Além dele, podemos constatar também uma influência dos pré-socráticos Demócrito e Heráclito.
Mas a mais importante corrente filosófica do final da Antiguidade foi inspirada em Platão. E por isso ela é chamada de Neoplatonismo.

Neoplatonismo

O neoplatônico mais importante foi Plotino, que estudou filosofia em Alexandria e mais tarde mudou-se para Roma.

Plotino trouxe para Roma uma doutrina da salvação que viria a se tornar séria concorrente do cristianismo. Mas o neoplatonismo também viria a exercer uma forte influência sobre a teologia cristã.

Plotino via o mundo como algo distendido entre dois polos. Numa extremidade estava a luz divina, que ele chamava de o Uno ou Deus.


Na outra reinavam trevas absolutas, mas essas trevas de fato não tinham uma existência concreta, nada mais eram do que a ausência de luz.
A única coisa que existe para ele é Deus, ou o Uno.
De acordo com Plotino a luz do Uno ilumina a alma, ao passo que a matéria são as trevas, que não possuem existência real. Mas as formas da natureza também possuem, segundo ele, um tênue reflexo do Uno.
A alma humana é uma “centelha do fogo”. 
Tudo o que vemos tem um pouco do mistério divino.
O ponto mais próximo em que nos encontramos de Deus é dentro de nossa própria alma.

Misticismo

Em alguns poucos momento de sua vida Plotino experimentou fundir sua alma com Deus. Ele não foi o único a viver tal experiência. Pessoas de todas as culturas, em todos os tempos têm relatado experiências semelhantes. Ainda que as descrições dessas experiências sejam as mais diversas, esses relatos têm muitos e importantes pontos em comum. Vamos ver alguns deles.

Uma experiência mística significa sentir-se um só com Deus, ou “alma do universo”. Em muitas religiões, diz-se que há um abismo entre Deus e sua criação. O místico, porém não conhece esse abismo. Em poucos momentos podemos experimentar a sensação de nos identificarmos com um eu maior. Nessa fusão o místico experimenta a sensação de “perder-se a si mesmo” em Deus, como uma gota d´água “se perde” quando se mistura à água do mar.
O que se perde é infinitamente menor do que aquilo que se ganha. Você se perde nesta forma que você tem agora, mas ao mesmo tempo compreende que você é algo infinitamente maior. O seu verdadeiro eu, que você só poderá experimentar se conseguir se libertar de si mesmo, é o fogo misterioso que queima para toda a eternidade.
Com frequência o místico tem de percorrer “o caminho da purificação e da iluminação”, a fim de poder se encontrar com Deus tendo uma vida extremamente simples, mas que poderá atingir o objetivo com a convicção de que:
“Eu sou Deus! Eu sou você!”

Encontramos vertentes místicas em todas as grandes religiões do mundo. E tudo o que os místicos escrevem sobre suas experiências apresenta visíveis semelhanças, a despeito de todas as diferenças culturais. Somente quando o místico tenta uma interpretação religiosa ou filosófica para sua experiência mística é que se evidencia o pano de fundo cultural.

  • Mística Ocidental – quer dizer, no judaísmo, no cristianismo e no islamismo – o místico afirma que seu encontro é com um Deus pessoal. Embora Deus esteja presente na natureza e na alma humana, ele está também além e muito acima deste mundo.
  • Mística Oriental – isto é, no hinduísmo, no budismo e na religião chinesa – o místico experimenta uma fusão total com um Deus. O místico pode dizer “Eu sou o espírito cósmico”, ou então “Eu sou Deus”. Pois Deus não está apenas presente no mundo; ele não tem outro lugar para estar.
Na Índia, sobretudo, já havia várias e fortes correntes místicas muito antes de Platão. Swami Vivekananda, que contribuiu para trazer ao Ocidente os pensamentos do hinduísmo, disse certa vez:





A experiência mística também pode ser de importância para a ética. Um artigo do presidente indiano, Radhakrishnan, disse certa vez: 

“Ama o teu próximo como a ti mesmo, pois tu és o teu próximo.
 É ilusão acreditar que teu próximo é outro, e não tu”.

Pessoas de nossa época, que não pertencem a determinada religião, têm relatado experiências místicas. De repente elas experimentam algo que chamam de “consciência cósmica” ou “sentimento oceânico”: sentem-se como que arrancadas do tempo e experimentam o mundo “da perspectiva da eternidade”.

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