Eles não existiam no princípio, e não existirão para sempre. Entraram no mundo por causa da vaidade dos homens, e por isso o seu fim rápido já está decretado.
Um pai, atormentado por um luto prematuro, manda fazer uma imagem do filho tão cedo arrebatado. Agora honra como deus aquele que antes era apenas um homem morto, e transmite para as pessoas de sua casa ritos secretos e cerimônias.
Com o tempo, esse costumo ímpio se vai arraigando, e é observado como lei.
Era ainda por ordem dos soberanos que se prestava culto âs estátuas. Como os súditos que viviam longe não podia honrá-los pessoalmente, reproduziram sua figura distante, fazendo uma imagem visível do rei que veneravam. Desse modo, adulavam o ausente, como se estivesse presente. A ambição do artista promoveu esse culto, mesmo entre aqueles que não conheciam o soberano.
De fato, querendo talvez agradar ao soberano, o artista se esforçou, com sua arte, para torná-la ainda mais atraente do que na realidade era.
A multidão, atraída pelo encanto da obra, considera agora objeto de adoração aquele a quem antes honravam apenas como homem. Isso tornou-se cilada para o mundo: homens, escravizados pela desgraça ou pelo poder, impuseram â pedra e â madeira o Nome incomunicável.
A palavra ídolo, em grego, significa imagem, estátua, isto é, reprodução de alguma coisa ou pessoa. O autor dá a entender que essas reproduções são feitas para substituir uma perda dolorosa, ou por razões de poder e ambição.
No primeiro caso, o motivo é emocional: perenizar a lembrança de algum falecido. No segundo, há motivos políticos e econômicos: dar a impressão de que o soberano está vigiando todos os lugares, e satisfazer a ambição do artista. Embora o texto pareça ingênuo e simplista, alerta para o perigo que a fascinação artística pode causar, dando margem ao endeusamento de uma realidade transformada em hiper-realidade.
O perigo é maior quando isso é usado para manipular política e economicamente o povo.
Sabedoria
Capítulo 14, versículo 12
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