22 de abril de 2014

Só alguém muito alienado pode acreditar em si mesmo

O senhor acredita em Deus?

Sim. Mas já fui ateu por muito tempo. Quando digo que acredito em Deus, é porque acho essa uma das hipóteses mais elegantes em relação, por exemplo, à origem do universo. Não é que eu rejeite o acaso ou a violência implícitos no darwinismo – pelo contrário. Mas considero que o conceito de Deus na tradição ocidental é, em termos filosóficos, muito sofisticado. Lembro-me sempre de algo que o escritor inglês Chesterton dizia: não há problema em não acreditar em Deus; o problema é que quem deixa de acreditar em Deus começa a acreditar em qualquer outra bobagem, seja na história, na ciência ou sem si mesmo, que é a coisa mais brega de todas. Só alguém muito alienado pode acreditar em si mesmo. Minha posição teológica não é óbvia e confunde muito as pessoas. Opero no debate público assumindo os riscos do niilista. Quase nunca lanço a hipótese de Deus no debate moral, filosófico ou político. Do ponto de vista político, a importância que vejo na religião é outra. Para mim, ela é uma fonte de hábitos morais, e historicamente oferece resistência à tendência do Estado moderno de querer fazer a cura das almas, como se dizia na Idade Média – querer se meter na vida moral das pessoas.

Por que o senhor deixou de ser ateu?

Comecei a achar o ateísmo aborrecido, do ponto de vista filosófico. A hipótese de Deus bíblico, na qual estamos ligados a um enredo e um drama morais muito maiores do que o átomo, me atraiu. Sou basicamente pessimista, cético, descrente, quase na fronteira da melancolia. Mas tenho sorte sem merecê-la. Percebo uma certa beleza, uma certa misericórdia no mundo, que não consigo deduzir a partir dos seres humanos, tampouco de mim mesmo. Tenho a clara sensação de que às vezes acontecem milagres. Só encontro isso na tradição teológica.

Entrevista de Pondé concedida a revista Veja.

21 de abril de 2014

Flw

Infâncias

Fomos feitos
para crescer,
   envelhecer
Mas toda vez
que fizer frio, 
você será menina
buscando calor
       em mim

Fomos feitos
para durar, 
perseverar
Mas cada vez
que eu me fizer frágil, 
serei menino
buscando seus braços
para fortalecer

Somente
na alternância
desses ventos, 
na consonância 
desses tempos, 
menino e menia
       serão
senhores e senhoras
de suas vidas
        de
homem e mulher.

César Magalhães Borges


Acordar cedo, 
num domingo de páscoa, para uma despedida. 
Tão rápida e significativa, 
meses antecederam-na. 
Poucas palavras pra um sentimento tão grande. 
Caminhos diferentes que se cruzarão, 
o início de um começo.